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Noções básicas de estatística

Caio Luisi

Fonte: Shutterstock.

Áudio disponível no material digital.

Convite ao estudo

Prezado estudante, nesta unidade aprofundaremos nossos saberes a respeito dos conceitos e das ferramentas da bioestatística, disciplina essencial para diversas áreas do conhecimento, principalmente para os profissionais da área da saúde.
Inicialmente, serão apresentados os conceitos básicos e introdutórios da estatística e a sua aplicação na área da biologia e da saúde, a bioestatística. 
Em um segundo momento, abordaremos as bases da estatística descritiva, sua aplicabilidade, os conceitos importantes para sua interpretação (média, frequências, desvio médio, dispersão) e suas formas de apresentação, que podem ocorrer em gráficos e tabelas por exemplo. Tais conceitos são amplamente aplicados em estudos científicos da área da saúde, além de apontarem outros indicadores de saúde na prática clínica.
Na terceira e última seção, estudaremos a probabilidade, outra ferramenta estatística importante e amplamente utilizada. Os conceitos abordados serão: probabilidade, mediana, média, desvio padrão e testes utilizados para comprovar ou refutar hipóteses, além de outros instrumentos da bioestatística.
A compreensão desses saberes complementa o conteúdo contemplado na disciplina até aqui e fornece ferramentas essenciais para enfrentar situações-problema nas áreas das ciências biológicas. Portanto, todos os critérios de coleta, organização e análise de dados serão apresentados e detalhados à luz dos principais métodos estatísticos. Bons estudos!

Praticar para aprender

Prezados acadêmicos, iniciamos a primeira seção da Unidade 4. Nesta etapa construiremos e aperfeiçoaremos saberes a respeito dos conceitos e das ferramentas da bioestatística, disciplina fundamental para os profissionais da área da saúde.
Inicialmente, serão abordados os conceitos gerais da estatística e serão apresentadas suas principais vertentes. Além disso, veremos os primeiros registros históricos da utilização dessa ciência amplamente empregada por todas as áreas do conhecimento.
Em um segundo momento, conceituaremos os principais termos utilizados na área, como o que é população, amostra, dado, variável e suas subdivisões. Compreender esses termos-chave é muito importante para a compreensão e a utilização dos métodos, em bioestatística, pelos profissionais da saúde.
Trataremos ainda dos tipos de variáveis quantitativas e qualitativas e os tipos de escalas existentes com diversos exemplos para fixar o conhecimento e facilitar a compreensão. 
Para encerrar a seção, abordaremos os principais tipos de amostragem, suas aplicações, vantagens e desvantagens, além de discutirmos sobre a importância da formação do tamanho amostral de um estudo, desde a quantidade adequada de participantes até a adequação deles ao estudo, para que expressem a característica que se quer investigar, e a problemática das amostras tendenciosas e suas consequências.
Considerando os conteúdos desta seção sobre os conceitos básicos de amostragem, vamos acompanhar um grupo de pesquisadores que deseja realizar um estudo sobre a presença de doenças crônicas em trabalhadores da indústria têxtil de uma cidade do Sudeste do Brasil.
Os estudiosos desenvolvem, então, o projeto para essa pesquisa e o encaminham ao Comitê de Ética do Hospital Central (grupo composto por diversos representantes especialistas e membros da sociedade que avaliam a pertinência do projeto) para que ele avaliasse o estudo e aprovasse ou não o projeto. Dois meses se passam e o trabalho retorna, sem aprovação, para que os pesquisadores realizem alterações em seu método. No item “Amostra” há uma observação que questiona a utilização de uma amostra por conveniência e que indaga o motivo dos dados serem coletados em apenas uma das oito fábricas do ramo na cidade e o fato de não existir nenhum cálculo amostral para se definir o tamanho da amostra. Você, enquanto pesquisador do grupo, concordaria com as observações feitas pelo Comitê de Ética? Quais as possíveis soluções para essa questão metodológica?
Compreender os conceitos e termos-chave de bioestatística permite ao futuro profissional da saúde ser suficientemente capaz de desenvolver estudos científicos para investigar problemas que atingem a população e para propor possíveis soluções às questões identificadas. Bom estudo a todos!

CONCEITO-CHAVE

Introdução à estatística e à bioestatística

Os primeiros registros encontrados sobre a utilização da estatística são relatos de Confúcio sobre levantamentos feitos na China e datam de 2.000 anos antes da era cristã. Outras civilizações antigas, como a dos egípcios, e civilizações pré-colombianas (incas, maias e astecas), também utilizaram informações estatísticas, segundo estudos arqueológicos. 
Dessa maneira, podemos compreender que, desde a Antiguidade, dados estatísticos com informações populacionais e de riquezas eram utilizados pelos governantes para decidir sobre suas ações e movimentos políticos, principalmente nas áreas tributária e militar.
Essa prática tornou-se indispensável e, até os dias de hoje, é amplamente utilizada, não só para questões econômicas e militares, mas para todos os outros setores, como os sociais, os educacionais e também na área da saúde.

Assimile

É possível notar, em diferentes períodos no decorrer da história, a utilização de dados estatísticos para nortear a administração pública. Durante o Renascimento, por exemplo, vemos o reconhecimento da importância da estatística principalmente a partir do episódio em que a Igreja Católica Romana, na Itália, torna compulsório os registros de batismo, casamento e óbito a partir do Concílio de Trento entre 1545 a 1563. Esses dados foram preservados pela Igreja e pelo Estado e encontram-se disponíveis para consulta até os dias de hoje.

A palavra “estatística” deriva da palavra latina status, que, originalmente, era compreendida como “informações úteis ao Estado”, ou seja, as questões relacionadas à composição demográfica, aos recursos, às taxações, etc. Pode-se conceituar estatística, então, como a ciência que coleta, organiza e analisa dados quantitativos, de forma que seja possível julgá-los ou interpretá-los racionalmente.
Essa ciência se correlaciona com todas as áreas do conhecimento e tem como função principal auxiliar o método científico em diversas fases, desde a coleta até a interpretação e a estimação de parâmetros populacionais.

Assimile

Podemos compreender, ainda, a estatística como a ciência da significação e uso dos dados, pois, como nenhuma outra ciência, transita em todas as áreas do conhecimento e serve como um dos principais instrumentos da pesquisa científica. A partir dela torna-se possível pegar um conjunto de dados para transformar em informações que podem ser comparadas com outros resultados ou que podem ser julgadas quanto à adequação a teorias e hipóteses.

Conceitos em estatística

A estatística é, de maneira geral, fundamental à análise e à interpretação de dados que apresentam variabilidade, bem como à elaboração de conclusões que servirão para tomada de decisão e para elaboração de ações em diferentes áreas do conhecimento. Podemos dividi-la em três áreas principais, conforme Figura 4.1.

Figura 4.1 | Principais áreas em estatística
Fonte: elaborada pelo autor.

Além de estatística, é importante conceituar também o termo bioestatística, que nada mais é que a estatística aplicada a dados biológicos, seja de animais, seja de seres humanos ou de outros seres vivos.
Agora que já sabemos o que, de fato, é estatística e alguns de seus desdobramentos, faz-se imprescindível compreender alguns termos-chave utilizados para seu estudo.

Tipos de variáveis

As variáveis são classificadas em dois grupos principais: as variáveis qualitativas e as quantitativas.
Variáveis qualitativas: são também conhecidas como categóricas e representam um atributo ou uma qualidade do participante da pesquisa. Apresentam-se em dois grupos:

Variáveis quantitativas: apresentam valores que podem ser exprimidos por números. Dividem-se em dois grupos:

Assimile

Podemos sintetizar essa explicação com o esquema da Figura 4.2.

Figura 4.2 | Tipos de variáveis
Fonte: elaborada pelo autor.

Tipos de escalas de medidas

Quando medimos alguma variável, automaticamente atribuímos a ela números, termos, letras ou símbolos que a caracterizam por meio de diferentes escalas. Por exemplo, utilizamos centímetros (cm) quando medimos a circunferência abdominal de indivíduos ou mililitros (ml) para determinarmos a quantidade de uma droga administrada.
As escalas se dividem em quatro tipos principais: nominal, ordinal, intervalar e proporcional (ou razão).

Tipos de amostragem

É muito frequente que, em estudos de diversas áreas do conhecimento, seja inviável ou impossível acessar todos os indivíduos ou componentes de uma população. Por isso, como já descrito anteriormente nesta seção, seleciona-se uma porção dessa população, que é denominada amostra. Essa amostra deve ser suficiente para expressar as características de toda a população de interesse, logo podemos entender que o termo “amostragem” diz respeito ao ato de analisar uma pequena parte de um grande grupo a fim de aprender mais sobre esse grupo maior.
A Figura 4.3 lista os motivos que levam à utilização das técnicas de amostragem em estudos científicos.

Figura 4.3 | Motivos para a utilização de técnicas de amostragem
Fonte: elaborada pelo autor.

Quanto ao tipo de amostragem, podemos dividir em dois tipos principais:

É importante considerar que, nesse tipo de amostragem, não há igual probabilidade, entre os elementos da população, de que serão selecionados, logo não há garantia de representatividade da população.

Reflita

Qual seria a importância dos estudos estatísticos em processos que vivenciamos atualmente, por exemplo a pandemia de Covid-19? Você poderia expor sua opinião de como os estudos estatísticos pouco criteriosos e equivocados metodologicamente poderiam nos afetar neste momento?

É imprescindível ressaltar a importância de selecionar os componentes que realmente expressem a característica que se quer estudar para a composição da amostra, além de assegurar que a amostra não é tendenciosa. Por exemplo, uma pesquisa que objetiva saber qual é o estilo musical favorito da população brasileira não pode ser realizada na fila de um show de rock, afinal a maioria esmagadora escolheria esse estilo musical como seu favorito, o que não necessariamente refletiria o gosto da população como um todo. Por fim, pode-se dizer que um dos principais cuidados com a amostra diz respeito a seu tamanho, que deve ser adequado. Para saber o tamanho amostral ideal, é preciso determinar o número mínimo de participantes por meio de cálculos específicos. Atualmente há diversos sites que disponibilizam gratuitamente ferramentas para calcular tamanho amostral. 
Agora que você já conhece os principais conceitos de estatística e de bioestatística, é importante correlacioná-los com o que foi apresentado no decorrer da disciplina de Saúde Pública. Conhecer as bases da bioestatística é fundamental para a prática profissional na área da saúde como um todo. Até a próxima seção!

Faça valer a pena

Questão 1

A estatística é fundamental à análise e à interpretação de dados que apresentam variabilidade, bem como à elaboração de conclusões que servirão para a tomada de decisão e para a elaboração de ações em diferentes áreas do conhecimento.
Tendo em vista os principais termos utilizados em estatística e em bioestatística, assinale a alternativa correta.

Correto!

CORRETA, pois características como sexo, idade, altura e peso são consideradas variáveis em estatística, já que variam de um elemento a outro do grupo.

Tente novamente...

INCORRETA, pois essa é a definição de população.

Tente novamente...

INCORRETA, pois população e amostra não são a mesma coisa. A amostra é obtida a partir de uma população.

Questão 2

Os componentes que caracterizam uma população e que podem variar entre os elementos pertencentes a um grupo são denominados variáveis. O conhecimento e o controle dessas variáveis em uma investigação são importantes para o alcance de resultados fidedignos.
Com respeito aos tipos de variáveis, assinale a alternativa correta:

Tente novamente...

INCORRETA, pois essa é a definição da variável qualitativa nominal.

Tente novamente...

INCORRETA, pois essa é a definição da variável qualitativa ordinal.

Correto!

CORRETA, pois são variáveis às quais não se pode atribuir um valor numérico, porém são importantes por caracterizarem as populações.

Tente novamente...

INCORRETA, pois essa é a definição das variáveis quantitativas contínuas.

Questão 3

A análise de grandes populações torna inviável a maioria das investigações populacionais em diversas áreas do conhecimento. Para que essas análises se tornem possíveis, seleciona-se uma porção dessa população, denominada amostra, a qual deve ser suficiente para expressar as características de toda a população de interesse. Logo, pode-se entender que o termo “amostragem” diz respeito ao ato de analisar uma pequena parte de um grande grupo para que se aprenda mais sobre ele. Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

  1. Na amostragem aleatória simples, todos os elementos da população têm igual probabilidade de serem incluídos na amostra por meio de sorteio. É indicada para populações heterogêneas, ou seja, com diferentes caraterísticas.
  2. A amostragem sistemática ocorre quando os elementos da população estão dispostos de maneira organizada, como em filas e em listas, e quando se tem um ponto de partida para selecionar, a cada número específico de integrantes, um elemento.
  3. Na amostragem por conglomerados, a população é dividida em conglomerados ou em clusters, sendo que os pesquisadores escolhem, após análise criteriosa, um conjunto de conglomerados para ser representativo da população.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Correto!

A alternativa correta é: II, apenas.

  1. Na amostragem aleatória simples, todos os elementos da população têm igual probabilidade de serem incluídos na amostra por meio de sorteio. É indicada para populações heterogêneas, ou seja, com diferentes caraterísticas. INCORRETA, pois é indicada apenas quando a população é homogênea e não heterogênea.
  2. A amostragem sistemática ocorre quando os elementos da população estão dispostos de maneira organizada, como em filas e em listas, e quando se tem um ponto de partida para selecionar, a cada número específico de integrantes, um elemento. CORRETA, pois nesse tipo de amostragem é criada uma sistematização a fim de cobrir toda a população.
  3. Na amostragem por conglomerados, a população é dividida em conglomerados ou em clusters, sendo que os pesquisadores escolhem, após análise criteriosa, um conjunto de conglomerados para ser representativo da população. INCORRETA, pois os conglomerados são aleatorizados e não escolhidos de forma premeditada.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Tente novamente...

Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.

Referências

ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia sem números: introdução crítica à ciência epidemiológica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989.

BARRETO, M. L. A. Epidemiologia, sua história e crises: notas para pensar o futuro. In: COSTA, D. C. Epidemiologia: teoria e objeto. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 1990.

BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. E-book. 

CALLEGARI-JAQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Artmed, 2007. E-book. 

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C.P. Noções de Probabilidade e Estatística. São Paulo: EDUSP, 2008.

STIGLER, S. M. The history of statistics: the measurement of uncertainty before 1900. Cambridge: Harvard University Press, 1986.

VIRGILLITO, S. B. Estatística aplicada. São Paulo: Saraiva, 2017. E-book.

ZWARCWALD, C. L.; CASTILHO, E. A. Os caminhos da estatística e suas incursões pela epidemiologia. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 5-21, 1992. Disponível em: https://bit.ly/3cCrUOS. Acesso em: 4 jan. 2021.

Bons estudos!

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