
Fonte: Shutterstock.
Deseja ouvir este material?
Áudio disponível no material digital.
Convite ao estudo
Na terceira unidade, o assunto que abordaremos é o sistema renal, responsável por filtrar o sangue, remover resíduos e excesso de água através da urina. Este sistema é formado pelos rins, ureter, bexiga e uretra. Para entender como ele funciona, precisamos conhecer as estruturas anatômicas de seus órgãos e compreender como ocorre o processo da micção e filtração do sangue, além de perceber que o sistema renal também realiza secreção e reabsorção de algumas substâncias para manter a homeostase do nosso corpo.
Você já ouviu falar em cálculo renal? E pedra nos rins? O cálculo renal ou pedras nos rins é uma enfermidade extremamente dolorosa. A dor relatada pelas pessoas se localiza nas costas, na altura das costelas inferiores, seguindo para a parte lateral da porção inferior do abdome. É causada por pequenos cristais formados a partir do processo de filtragem do sangue que, por vezes, tem excesso de algumas substâncias, como cálcio e ácido úrico. Esses cristais podem ser transportados ao longo das partes deste sistema, causando dor e desconforto por onde passam. Mas, para entendermos mais sobre este assunto, precisamos saber como ocorre a filtração do sangue, quais as etapas de reabsorção e secreção, e, ainda, após a formação da urina, como este sistema transporta e armazena a urina até sua excreção total.
Você sabia que este sistema também pode controlar a pressão arterial? Durante as seções desta unidade, mostraremos em detalhes como este mecanismo ocorre, pois os rins desenvolvem um papel muito importante na regulação da pressão arterial ao promoverem um aumento ou diminuição do volume sanguíneo.
Você já consegue perceber que este sistema é essencial para o funcionamento do nosso corpo, sendo assim, acho que você já ouviu falar que, quando estamos em hipóxia ou anêmicos, os rins produzem um hormônio denominado eritropoietina, que estimula a medula óssea vermelha a aumentar a produção de eritrócitos no sangue.
Agora que você já consegue visualizar algumas situações que envolvem o sistema renal, podemos estudar todas as estruturas que o compõem; os tecidos que formam cada estrutura; quais são os processos que envolvem o sistema; como ocorre sua hemodinâmica; qual o mecanismo de transporte pelo néfron; como ocorre o controle da osmolaridade; e conhecer as doenças que podem levar a um prejuízo no funcionamento dos rins. Cada tema desta unidade irá enriquecer mais ainda o seu conhecimento no estudo do corpo humano.
Então, agora depois de mostrar algumas das particularidades do sistema renal, quero convidá-lo a se aprofundar no tema desta unidade.
Agora, vamos dar início ao estudo da Unidade 3.
Um ótimo estudo para você!
Praticar para aprender
Nesta seção vamos iniciar o estudo do sistema renal. Sempre quando vamos conhecer um sistema, o primeiro passo é estudar sua composição histológica e anatômica para elucidar como as estruturas, juntas, se organizam para o funcionamento do sistema. Além disso, serão apresentadas a você, no decorrer da seção, situações-problemas para que você possa entender os conceitos e processos mediante uma abordagem contextualizada que dialoga com a prática.
Acredito que você, quando pensa no sistema renal, entende que ele é formado por dois rins. Mas, para que servem os rins? Conseguimos viver sem um rim? Os rins são órgãos extremamente vascularizados e desempenham função vital para a homeostase do nosso corpo.
O sistema renal é composto pelos rins, ureter, bexiga urinária e uretra. Cada um destes componentes possui sua função específica. A uretra apresenta dimorfismo sexual, ou seja, ocorrem de formas diferentes em homens e mulheres. A bexiga urinária, na fase de enchimento, se distende e, quando alcança um determinado volume, a pessoa sente uma grande vontade grande de urinar – nos homens, ela fica insuportável quando o órgão atinge 450-500 ml, e, nas mulheres, isto acontece com 350-400 ml. E por que esses fenômenos acontecem? Durante esta seção, falaremos sobre as estruturas renais, a função renal, a hemodinâmica renal e como ocorre a fase de filtração, reabsorção, secreção e excreção.
Portanto, o sistema renal deve ser estudado detalhadamente para que possamos entender seus componentes, a anatomia de cada parte do complexo renal e qual a função de cada uma destas estruturas macroscópicas e microscópicas.
Vamos imaginar uma situação hipotética: um homem de 36 anos de idade, sedentário e hipertenso, decide mudar o estilo de vida. Para isso, procura você para iniciar o programa de atividade física. Sendo assim, você, agora formado em Educação Física, decide avaliar mais a fundo a história desse homem para montar um programa individualizado e ideal para seu aluno.
Durante a anamnese, você descobre que ele possui várias histórias de doenças renais na família, além de doenças cardiovasculares, entre outras. Com base nessas informações, você decide montar dois tipos de treino: resistido e aeróbio.
Quando analisamos o sistema circulatório, vimos que o exercício físico melhora o desempenho do coração e do transporte de oxigênio pelo corpo. Porém, quando falamos do sistema renal, será que o exercício físico teria algum benefício para ele? Como posso melhorar a função renal? Existe a possibilidade de algum treino causar lesão renal?
Uma cantora de ópera novaiorquina chamada Beverly Sills uma vez disse que “não há atalhos para nenhum destino onde se vale a pena chegar”. Para você se tornar um profissional completo, você terá que passar por várias etapas no decorrer da sua graduação. algumas delas você não vai entender, outras você vai gostar ou não. Mas, para chegar ao final, você tem que passar por todas, tem que estudar e aprender cada detalhe. Mesmo que agora não faça sentido, em breve você vai se lembrar deste momento e do que você aprendeu aqui.
conceito-chave
O sistema renal é composto por dois rins, dois ureteres, uma bexiga urinária e uretra. No entanto, é um dos sistemas do nosso corpo responsável em manter a homeostase, porque mantém as concentrações de determinadas substâncias em valores constantes, ou seja, a quantidade dessas substâncias que entram no corpo é a mesma que sai. Por este motivo, suas funções principais são a regulação do equilíbrio hídrico e eletrolítico, a produção de hormônios e a excreção de resíduos.
O equilíbrio eletrolítico acontece por meio da regulação dos níveis de íons no sangue, principalmente os íons sódio, potássio, cálcio, cloreto, fosfato e hidrogênio. Já o equilíbrio hídrico ocorre com a regulação do volume sanguíneo: a água é reabsorvida para aumentar o volume do sangue ou é eliminada na urina para diminuir o volume do sangue. Este sistema também é responsável por produzir dois hormônios: o calcitriol e a eritropoietina. O primeiro é a forma ativa da Vitamina D que regula o cálcio, e a eritropoietina, quando acionada, estimula a produção de células vermelhas. Além disso, todas as substâncias que não possuem utilidade para o nosso corpo são eliminadas através da urina.
HISTOLOGIA DO SISTEMA RENAL
Os rins possuem uma cápsula de tecido conjuntivo denso e apresentam uma forma semelhante a um grão de feijão, contendo uma borda lateral convexa e uma borda medial côncava, que contém uma abertura denominada hilo renal, local de entrada da artéria renal e saída da veia renal e ureter. Os rins são envolvidos por três camadas de tecido: cápsula fibrosa, cápsula adiposa e fáscia renal. A cápsula fibrosa é a camada interna que recobre a superfície do rim, a cápsula adiposa envolve a cápsula fibrosa com uma massa de gordura perirrenal que ancora o rim na parede posterior do abdome, e a fáscia renal é a camada mais externa que envolve o rim.
Exemplificando
Os rins são encapsulados e, por isso, apresentam-se protegidos. Porém, eles são altamente vascularizados e, se uma pessoa receber uma pancada muito forte na região lombar, pode ocorrer uma hemorragia, ocasionando perda de células vermelhas na urina.
Logo abaixo da cápsula fibrosa, está o córtex renal e medula renal. Nestas duas regiões encontram-se a unidade funcional dos rins: os néfrons e túbulos coletores. Os néfrons possuem uma rede de capilares que ficam nos glomérulos e túbulos, sendo que ocorrem variações do epitélio ao longo da extensão dos túbulos. O glomérulo é envolvido por uma cápsula glomerular que fica localizada no córtex renal. A camada externa desta cápsula é formada por epitélio pavimentoso simples que fica sob uma lâmina basal, e a camada interna é composta por podócitos. Os podócitos possuem numerosos prolongamentos que se aderem à lâmina basal dos capilares. A ramificação dos podócitos em processos secundários e terciários são denominados pedicelos ou pedículos. Os espaços entre os prolongamentos formam as fendas de filtração, que são cobertas por uma fina membrana fedilhada que ajuda na filtração, delimitando a passagem de moléculas através dessa fenda.
O filtrado do espaço capsular passa para o túbulo contorcido proximal, que é formado por epitélio simples cúbico com microvilos, que auxilia no processo de reabsorção e secreção que ocorre nesta região. Assim, o túbulo apresenta uma porção que forma a alça do néfron que tem forma de U, com uma porção descendente (parte reta do túbulo proximal) e ascendente (parte reta do túbulo distal). A porção descendente sai do córtex renal e penetra na pirâmide renal, e possui uma parte delgada contendo epitélio simples pavimentoso. Depois da alça, temos a porção ascendente que sai da pirâmide e retorna ao córtex, região que possui a parte espessa constituída de epitélio simples cúbico.
Assim, há uma porção espiralada denominada túbulo contorcido distal, que possui as paredes formadas por epitélio simples cúbico, mas não possui microvilos. Na junção entre a parte reta do túbulo distal e do túbulo contorcido distal, a parede próxima à cápsula renal encontra-se à mácula densa, composta por células colunares, com núcleos próximos uns dos outros, sendo responsável por controlar a concentração de sódio e cloreto presente no filtrado e informar as células justaglomerulares, secretoras da enzima renina liberada em resposta à pressão sanguínea baixa.
Os tubos coletores possuem epitélio simples cúbico ou colunar e eles transportam a urina formada até a extremidade da papila, formando uma área cribriforme. As papilas renais possuem um epitélio simples cúbico ou colunar, onde cada papila estende-se em um cálice menor. Os cálices menores unem-se em dois a quatro cálices maiores, que desembocam na pelve renal. Tanto os cálices quanto a pelve renal são revestidos pelo epitélio de transição.
Logo, da pelve renal a urina é transportada pelos ureteres até a bexiga. Eles são revestidos por epitélio de transição. Os ureteres possuem três camadas: sua mucosa é contínua com o epitélio da pelve renal e da bexiga, as células desta mucosa secretam um muco que recobre a parede interna para proteger os ureteres da acidez da urina; a camada média é constituída de músculo liso; e a camada externa é a camada adventícia composta por tecido conjuntivo frouxo. A bexiga possui uma variação na forma das células de globosas ou poliédricas para pavimentosas, o que permite a distensão do tecido e a acomodação da urina no órgão durante o processo de enchimento. Além disso, a bexiga possui uma túnica muscular de músculo liso que fica localizado na camada longitudinal interna da bexiga, e uma camada circular externa no terço inferior dos ureteres e inferiormente à bexiga.
Por fim, a uretra, que possui particularidades diferentes no homem e na mulher. Na uretra feminina, de acordo com sua proximidade com a bexiga ou com o meio exterior, o epitélio pode ser de transição, pseudoestratificado colunar, estratificado colunar ou estratificado pavimentoso. Já a uretra masculina, é separada em três partes: a parte prostática apresenta epitélio de transição; a parte membranosa, um epitélio pseudoestratificado colunar ou estratificado colunar, e sua parte esponjosa um epitélio pseudoestratificado colunar, estratificado colunar e, próximo ao óstio externo da uretra um epitélio estratificado pavimentoso.
ANATOMOFISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS DO SISTEMA RENAL
Os rins são dois órgãos que apresentam 11 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de espessura. Estão localizados na parede posterior da cavidade abdominal (retroperitoneal), ao nível da décima segunda vértebra torácica até a terceira vértebra lombar. No entanto, devido à localização do fígado, o rim direito apresenta-se localizado um pouco mais inferior comparado ao rim esquerdo. Na extremidade superior de cada rim encontra-se a glândula suprarrenal.
Em um corte frontal do rim, observamos duas regiões aparentemente diferentes: o córtex renal e a medula renal. O primeiro é a parte mais externa que fica em contato com a cápsula fibrosa e apresenta uma coloração marrom avermelhado devido à grande quantidade de capilares sanguíneos que chegam neste local. A medula renal é mais profunda, apresenta uma coloração mais escurecida, é composta por pirâmides renais – aproximadamente de 8 a 15 – e prolongamentos do córtex renal formam as colunas renais. No ápice das pirâmides renais ficam as papilas renais que apresentam pequenos poros que ficam voltados para a parte interna do rim.
A cavidade interna do rim é o local que coleta a urina e a transporta até o ureter. Assim, ocorre a formação de pequenas cavidades logo abaixo das papilas renais denominadas cálices menores. A junção deles forma os cálices maiores, que, por sua vez, se juntam e formam a pelve renal, que possui um formato de funil e encaminha toda a urina recolhida para o ureter (Figura 3.1).
Os ureteres possuem aproximadamente 25 cm de comprimento, são divididos em parte abdominal e parte pélvica. Eles são constituídos por músculo liso (camada média) que promovem ondas peristálticas que movimentam a urina através do ureter até a bexiga urinária. As ondas peristálticas iniciam quando há urina na pelve renal, e sua frequência depende da quantidade de volume de urina.
Assimile
Você sabe o que é ptose renal? A ptose renal é uma condição em que os rins se desprendem das estruturas que o mantêm firmemente fixado à parede posterior do abdome. Assim, os rins descem devido à ação gravitacional. Esta condição não é comum em jovens, mas pode ocorrer em idosos, por terem uma quantidade de insatisfatória de gordura de sustentação da cápsula adiposa renal. No entanto, esta descida e frouxidão dos rins pode torcer o ureter, impedindo o fluxo de urina.
A bexiga urinária é um órgão oco que tem a função de armazenar cerca de 750 ml de urina. Está localizada no assoalho da cavidade pélvica. Sua face anterior fica atrás da sínfise púbica, e sua face posterior, nos homens, fica à frente do reto, e, nas mulheres, à frente do útero. A base da bexiga está em contato com a porção inferior dos ureteres e o ápice da bexiga se abre para a uretra. A parede interna da bexiga possui rugas, de modo que, quando a bexiga começa a encher estas rugas se distendem deixando a parede da bexiga cada vez mais fina. E, ainda, parte desta mucosa interna funciona como válvulas, fechando os óstios dos ureteres para evitar refluxo da urina para os ureteres e rins. A área triangular formada entre os óstios dos ureteres e o óstio interno da uretra é denominado trígono da bexiga. Essa região não apresenta rugas e funciona como um funil, encaminhando a urina para a uretra. A bexiga é composta por uma camada de músculo liso que a circunda – o músculo detrusor da bexiga. Ele se modifica envolta da parte superior do ureter, formando o músculo esfíncter interno da uretra.
A uretra tem um formato tubular e tem a função de conduzir a urina proveniente da bexiga urinária até a porção externa do nosso corpo. Existem glândulas uretrais que ficam dispostas na parede da uretra e liberam muco para proteção do canal uretral. A uretra é composta por dois tipos de músculos: liso e estriado esquelético. O músculo liso e involuntário fica localizado em sua parte superior, logo abaixo da bexiga urinária, denominado esfíncter interno da uretra; e o músculo estriado esquelético e voluntário fica localizado no assoalho pélvico, próximo ao óstio externo da uretra denominado esfíncter externo da uretra. Nas mulheres, a uretra possui aproximadamente 4 cm de comprimento. Porém, nos homens, a uretra possui aproximadamente 20 cm de comprimento e é dividida em três partes: prostática, membranácea e esponjosa. A parte prostática da uretra masculina atravessa a próstata, que fica localizada logo abaixo da bexiga urinária; a parte membranácea da uretra atravessa o diafragma urogenital, onde fica localizado o músculo esfíncter externo da uretra, e então, a parte esponjosa da uretra é a porção mais longa, pois é a parte que compõe o pênis e pode sofrer alteração no tamanho.
A micção é o ato reflexo de urinar, ou seja, ejetar a urina para o meio externo. Neste caso, há necessidade de controle pelo sistema nervoso periférico, tanto da parte involuntária quando da parte voluntária. A bexiga urinária recebe inervação do sistema nervoso simpático e parassimpático, componentes do sistema nervoso autônomo, e ainda, recebe inervação da musculatura estriada esquelética pelo sistema nervoso somático.
Na criança, o ato reflexo de urinar precisa passar pelo amadurecimento do sistema nervoso. Por isso, somente aos 2 ou 3 anos de idade a criança consegue ter controle voluntário da micção. Um adulto produz cerca de 1.200 ml de urina por dia, o que pode variar, dependendo da quantidade de líquidos ingeridos pela pessoa. Mas, a capacidade de armazenamento da bexiga urinária é de até 800 ml, sendo que um volume de 200 a 300 ml de urina já inicia o processo de dilatação da bexiga suficiente para provocar estímulos dos receptores e desencadear o reflexo de micção, causando a vontade de urinar.
Logo, o sistema nervoso parassimpático é ativado, o músculo detrusor da bexiga começa a contrair e o músculo esfíncter interno da uretra é relaxado: a urina desce pela uretra. Porém, ainda há o controle voluntário do músculo esfíncter externo da uretra e, no momento oportuno, o indivíduo irá acionar as fibras nervosas motoras do músculo esfíncter externo da uretra, causando o relaxamento do esfíncter e possibilitando a micção. Após todo esse processo, é acionado o sistema nervoso simpático, que relaxa o músculo detrusor da bexiga e contrai o músculo esfíncter interno da uretra para que, assim, a bexiga possa novamente passar pela fase de enchimento.

HEMODINÂMICA E ESTRUTURAS RENAIS
Os rins são órgãos altamente vascularizados e apresentam uma baixa resistência ao fluxo sanguíneo em seu interior. Na porção medial dos rins, encontra-se o hilo renal, uma região de abertura dos rins para passagem de vasos sanguíneos, ureter, vasos linfáticos e nervos.
O sangue arterial proveniente da artéria aorta descendente se ramifica em artéria renal, que penetra nos rins através do hilo, e, assim, se ramifica em artérias interlobares que passam através das colunas renais entre as pirâmides. Na base das pirâmides, onde há junção do córtex com a medula, ocorre ramificação das artérias interlobares em artérias arqueadas, que, por sua vez, dão origem às pequenas artérias interlobulares que passam através do córtex em direção à superfície dos rins. E então, esta artéria se divide em inúmeras arteríolas aferentes, e cada uma destas irá perfundir uma cápsula glomerular formando uma rede capilar de glomérulo, gerando o filtrado glomerular.
O fluxo sanguíneo renal é dividido em duas regiões: um fluxo sanguíneo cortical rápido, que corresponde a 90% do fluxo total e fica distribuído pelo córtex renal; e o fluxo sanguíneo medular lento, que corresponde aos 10% restantes e fica distribuído através da medula renal. A pressão do fluxo sanguíneo nos vasos capilares glomerulares é o fator que gera a filtração. Logo, existem duas pressões que se opõem à filtração glomerular: a pressão coloidosmótica sanguínea e a pressão hidrostática da cápsula glomerular.
Os capilares sanguíneos recebem uma força da pressão do sangue contra as suas paredes, o que causa a saída do fluido para fora dos vasos capilares em direção ao líquido intersticial. Porém, uma força contrária, chamada de pressão coloidosmótica sanguínea (33 mmHg), tenta manter esse fluido dentro dos vasos capilares. E a pressão hidrostática da cápsula glomerular (18 mmHg) gerada pela presença de fluido no espaço capsular e no túbulo renal também gera uma força contrária à filtração. No entanto, a pressão hidrostática glomerular ou pressão de filtração total (60 mmHg) é maior do que as forças que se opõem. Por este motivo, a pressão hidrostática glomerular força uma grande quantidade do fluido para o espaço capsular, promovendo a filtração.
A quantidade de filtrado formado pelos rins por minuto é denominada taxa de filtração glomerular. Ela precisa se manter constante, pois, quando ocorre alteração nos seus níveis, podem ocorrer prejuízos ao funcionamento adequado dos rins. Sendo assim, quando a taxa de filtração glomerular está alta, determinadas substâncias necessárias ao nosso corpo passam muito rápido pelos túbulos renais e não são reabsorvidas, ou seja, acabam sendo excretadas pela urina. No entanto, quando a taxa de filtração glomerular é baixa, quase todo o filtrado é reabsorvido, o que significa que não há a excreta devida de alguns compostos que deveriam ser descartados.
O sangue deixa o glomérulo pela arteríola eferente, que se divide em uma rede de capilares peritubulares, ou seja, capilares que irão circundar os túbulos do néfron. Estes capilares se confluem para as veias interlobulares, que irão desembocar nas veias arqueadas e, depois, nas veias interlobares que levam o sangue filtrado para as veias renais que deixam os rins e levam o sangue para a veia cava inferior em direção ao átrio direito do coração (Figura 3.2).
Quando falamos da hemodinâmica renal, precisamos conhecer quais são os gradientes dos vasos sanguíneos renais. Portanto, a seguir vamos descrever um pouco sobre os tipos de gradiente e como atuam nesse processo.
O gradiente de pressão hidrostática e oncótica dos vasos renais é mensurado a partir das arteríolas aferente e eferente, pois são os locais de grande resistência ao fluxo sanguíneo renal. Por esse motivo, o controle da pressão e do fluxo sanguíneo nas duas arteríolas define o andamento da filtração plasmática através da parede do capilar glomerular. A circulação renal possui suporte capilar da arteríola aferente, que chega na cápsula glomerular, formando um emaranhado de capilar glomerular, e da arteríola eferente, que deixa a cápsula glomerular e entrelaça os túbulos, formando os capilares peritubulares.
Existem alguns fatores que levam à alteração na resistência tanto das arteríolas aferentes quanto das arteríolas eferentes, causando uma alteração do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular. Assim, o fluxo sanguíneo renal é diretamente proporcional ao gradiente de pressão entre a artéria e a veia renal, e é inversamente proporcional à resistência da circulação.
Portanto, a pressão sanguínea fornece a pressão hidrostática, que é a pressão do sangue que flui nos capilares e força o líquido através do endotélio permeável, o que impulsiona a filtração glomerular. Mas, quando ocorre um aumento na resistência da arteríola aferente, a pressão hidrostática diminui do lado glomerular da constrição, resultando na diminuição da taxa de filtração glomerular e do fluxo sanguíneo renal (FSR). Além disso, quando a resistência aumenta na arteríola eferente, o sangue fica preso antes da constrição, resultando em um aumento da pressão hidrostática nos capilares glomerulares e na taxa de filtração glomerular, gerando uma diminuição do FSR. Se houver um aumento da resistência nas duas arteríolas, não ocorre modificação da filtração glomerular, mas acontece uma grande diminuição do FSR.
FILTRAÇÃO, REABSORÇÃO E SECREÇÃO RENAL
Cada rim possui, aproximadamente, um milhão de néfrons, os responsáveis pela formação da urina. O néfron é a unidade funcional dos rins. São estruturas microscópicas que recebem uma grande quantidade de capilares sanguíneos para a realização da filtração do sangue, e a reabsorção, secreção e excreção de determinadas substâncias (Figura 3.3).

A filtração glomerular consiste no movimento de líquido do sangue para o néfron, evento que ocorre somente no corpúsculo renal (cápsula glomerular). A reabsorção é o processo de transporte de substâncias presentes no filtrado dos túbulos de volta para os capilares sanguíneos. A secreção é o processo que remove moléculas específicas presentes nos capilares sanguíneos, direcionando-as para o filtrado dos túbulos. E o processo de excreção consiste na remoção de substâncias não necessárias para o nosso corpo.
O néfron é constituído por duas partes: o corpúsculo renal e túbulo renal. O corpúsculo renal é o local onde ocorre a filtração do plasma sanguíneo; o túbulo renal é o local por onde passa o líquido filtrado que recebe o nome de filtrado glomerular.
Além disso, estas duas partes de dividem em mais estruturas, em que o corpúsculo renal é formado pelo glomérulo, um emaranhado de capilares glomerulares, e pela cápsula glomerular (Bowman). Ela circunda o glomérulo, formada por células epiteliais de parede dupla, onde é constituído um espaço capsular entre cada camada. As células que fazem parte da parede interna da cápsula glomerular são os podócitos, que ficam aderidos às células endoteliais dos capilares do glomérulo. A junção entre podócitos e endotélio gera uma membrana de filtração, permitindo, assim, a passagem de água e solutos presentes no sangue para o espaço capsular. No entanto, nem todas as células e proteínas contidas no sangue conseguem passar pela membrana de filtração, pois apresentam um tamanho muito grande. Por esse motivo, o filtrado glomerular é formado basicamente por água, sais minerais, íons, hormônios e aminoácidos.
A reabsorção e secreção de algumas substâncias ocorre nos túbulos renais. O néfron é formado pelo túbulo contorcido proximal, alça do néfron (alça de Henle) e túbulo contorcido distal. Por causa do processo de reabsorção e secreção que ali ocorrem, a composição do filtrado sofre alterações, sendo que 99 % da água filtrada é reabsorvida ao longo dos túbulos, ou seja, 1 % da água compõe a urina que é excretada pelo nosso corpo.
Os túbulos são formados por células epiteliais que realizam a reabsorção tubular, os solutos são reabsorvidos por dois mecanismos, passivamente pelo mecanismo de difusão e também pelo mecanismo de transporte ativo. No túbulo contorcido proximal, acontece a maior parte da reabsorção do filtrado glomerular, pois nele são reabsorvidos cerca de 65 % de toda água filtrada por osmose, 100 % da glicose e dos aminoácidos filtrados. Dos íons filtrados, ocorre a reabsorção de aproximadamente 65 % de sódio e potássio, entre 80 e 90 % do bicarbonato, 50 % do cloro e uma quantidade variável de cálcio e magnésio.
A alça do néfron é a parte tubular do néfron importante para manter o balanço hídrico e apresenta uma estrutura em forma de alça que se divide em parte descendente e ascendente, na qual o segmento fino descendente possui uma alta permeabilidade à água. Por isso, cerca de 15 % da água filtrada é reabsorvida por osmose, e o segmento fino ascendente é local de reabsorção de alguns íons, cerca de 25 % de sódio e potássio, entre 10 e 20 % do bicarbonato, 35 % do cloro e uma quantidade variável de cálcio e magnésio.
O túbulo contorcido distal é a porção final do néfron responsável por reabsorver a quantidade de eletrólitos necessária para manter a homeostase do corpo, onde reabsorve cerca de 5 % de sódio e cloro, e o cálcio é reabsorvido pela ação do hormônio paratormônio, secretado pela glândula paratireoide quando os níveis de cálcio estão baixos no sangue. Assim, esse tipo de reabsorção é variável. Apesar de essa porção do túbulo renal ser impermeável à água, por estar próximo ao túbulo coletor, pode ocorrer até 15 % de reabsorção da água.
Por fim, após o filtrado passar em toda a extensão dos túbulos renais, ele é drenado para o túbulo coletor, onde ainda pode ocorrer reabsorção de alguns íons, como bicarbonato e sódio, que se dá pela ação do hormônio aldosterona liberado pelo córtex da glândula suprarrenal. Quando o corpo tem necessidade de reabsorver mais água, a permeabilidade desse tubo depende do hormônio antidiurético liberado pela glândula hipófise, o que influencia na concentração da urina, que pode se tornar mais concentrada se houver uma grande quantidade de reabsorção de água ou diluída quando esta reabsorção não acontece (Figura 3.4).
Outra função do néfron é a secreção tubular, assim como a reabsorção. Os solutos são secretados por difusão ou por transporte ativo. Sendo assim, agora ocorre a retirada de elementos que estão nos capilares peritubulares e sua transferência para dentro dos túbulos renais. Existem alguns solutos que precisamos retirar do nosso corpo, e através do processo de secreção ocorre a retirada deles do sangue. A amônia e a ureia são excretadas tanto pela urina quanto pelo suor, mas sua maior taxa de excreção é via urinária. A amônia é um produto tóxico proveniente do metabolismo. Apesar de o fígado transformá-la em ureia, que é menos tóxica, ainda assim é necessária sua excreção.
Além disso, existem substâncias provenientes de drogas e medicações que precisam ser secretadas no túbulo renal para serem eliminadas. Assim, no túbulo contorcido proximal, ocorre a secreção de amônia, ureia, creatinina (músculo) e hidrogênio que é eliminado quando está excedente – isto acontece para manter o pH ideal do sangue (entre 7,35 e 7,45).
Na alça do néfron, acontece a secreção de ureia. E então, todo o filtrado chega no túbulo coletor, onde é secretado potássio – se sua concentração no sangue estiver elevada – e hidrogênio para manter o pH sanguíneo ideal.

Reflita
Por que os idosos ficam mais vulneráveis à desidratação?
Por fim, vimos nesta seção as estruturas que compõem o rim e que, a partir da filtração glomerular, o líquido filtrado passa pelos túbulos renais que reabsorvem toda ou grande parte de determinados solutos. Porém, ali ocorre também o processo de secreção de substâncias tóxicas, solutos e eletrólitos para o túbulo renal. Então, todo este líquido é drenado para o túbulo coletor que passa através da pirâmide renal, alcançando a papila renal, que recebe este líquido filtrado que agora recebe o nome de urina. Ela passa pelos cálices menores, depois pelos cálices maiores, pelve renal até chegar ao ureter que a transporta até a bexiga urinária para ser posteriormente eliminada através da uretra.
Faça valer a pena
Questão 1
O rim é composto por dois órgãos excretores cujo formato é semelhante ao de um grão de feijão. No ser humano, possui aproximadamente 11 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3 cm de espessura. Ele apresenta a função de filtrar e excretar, pela formação da urina, produtos do metabolismo junto com o excesso de água. Cada rim contém somente uma entrada e uma saída para vasos e inervação.
Quais estruturas compõem o hilo renal?
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Correto!
A alternativa correta é a B, artéria renal, veia renal e ureter. As outras opções apresentam artérias que não existem ou apresentam-se em regiões distantes do rim, responsáveis por irrigar e drenar outros órgãos. Além disso, a papila renal encontra-se logo abaixo das pirâmides renais, e a pelve renal é uma cavidade em que a urina fica antes de ser empurrada através do ureter.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Questão 2
A uretra masculina é muito maior do que a uretra feminina. Enquanto a uretra feminina tem em média 4 cm, a uretra masculina tem em média 20 cm.
Considerando o contexto, avalie as afirmativas a seguir:
- A uretra masculina possui três partes: prostática, membranácea e esponjosa.
- Uretra é o canal que conduz a urina do interior da bexiga para fora do corpo.
- Na uretra, encontra-se um músculo estriado voluntário denominado esfíncter interno da uretra.
- A parte membranácea da uretra atravessa o assoalho pélvico e apresenta cerca de 15 cm.
Agora, assinale a alternativa que apresenta somente as afirmações verdadeiras:
Correto!
A afirmativa I está correta. A uretra masculina possui três partes: prostática, membranácea e esponjosa.
A afirmativa II está correta. A uretra é o canal que conduz a urina do interior da bexiga para fora do corpo.
A afirmativa III está incorreta, pois, na uretra, encontra-se um músculo estriado voluntário denominado esfíncter externo da uretra, não o esfíncter interno da uretra.
A afirmativa IV está incorreta, pois a parte membranácea da uretra atravessa o assoalho pélvico e apresenta cerca de 1 cm, e não 15 cm, como consta na afirmativa.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Questão 3
O néfron é a unidade funcional do rim, dividido em várias regiões, onde cada uma é responsável por diversas funções.
Neste sentido, julgue as afirmativas a seguir em (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.
( ) O néfron é formado pelo corpúsculo renal e túbulo renal.
( ) Internamente, os rins são formados pelas cápsulas fibrosa renal e adiposa.
( ) A maior parte da água é reabsorvida na alça do néfron ou alça de Henle.
( ) Os néfrons realizam três funções básicas: filtração, reabsorção e secreção.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Correto!
A segunda afirmativa é falsa, pois, internamente, os rins são formados pelo córtex renal e medula renal, cálices e pelve renal, mas externamente é recoberto pela cápsula fibrosa renal e cercado pelo tecido adiposo.
A terceira afirmativa é falsa, porque a maior parte da água (65%) é reabsorvida no túbulo contorcido proximal.
Tente novamente...
Esta alternativa está incorreta, leia novamente a questão e reflita sobre o conteúdo para tentar outra vez.
Referências
BUENO, L. Anatomia Sistema Urinário - Bexiga urinária e uretra - Aula Prática. YouTube, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3gsusRT. Acesso em: 13 jun. 2021.
CURI, R.; PROCOPIO, J. Fisiologia Básica. 2. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2017.
GUSMÃO, L.; GALVÃO, J.; POSSANTE, M. A resposta do rim ao esforço físico. Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão, Lisboa, 17(1), p. 73-80, 2003.
LAROSA, P. R. R. Anatomia Humana: Texto e Atlas. São Paulo: Grupo GEN, 2016.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. Anatomia Orientada para Clínica. 8. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2018.
RUPRECHT, T. Como a atividade física pode beneficiar os rins. Veja Saúde, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3pVhvD8. Acesso em: 13 jun. 2021.
RHOADES, R. A.; TANNER, G. A. Fisiologia Médica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
SPENCE, A. P. Anatomia Humana Básica. 2. ed. Barueri: Manole, 1991.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia Humana. 6. ed. Barueri: Manole, 2003.