O QUE É LIDERANÇA?
Existem muitas teorias e abordagens sobre liderança. Confira diferentes formas de definir esse conceito e conheça os principais tipos de liderança.

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CONCEITO-CHAVE
O QUE É LIDERANÇA?
A liderança é um tema muito interessante, pois todos nós, de alguma forma, sabemos o que esse conceito significa e somos capazes de reconhecer os líderes ou até mesmo de nos reconhecer enquanto líderes. Em razão de nossa vivência pessoal e profissional, é possível que identifiquemos aqueles líderes que avaliamos como bons e aqueles que percebemos como ruins ou inadequados.
Reflita
Procure lembrar-se de alguém que tenha influenciado sua vida de forma importante. Pense nas qualidades que caracterizam essa pessoa. Ela pode ser considerada líder? Que tipo de líder?
Para Robbins (2002, p. 304), a liderança pode ser definida como “a capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance de objetivos”. Por sua vez, Griffin e Moorhead (2015, p. 276) afirmam que a “liderança é um processo e uma qualidade. Como processo, envolve o uso de influência não coercitiva. Como qualidade, é um grupo de características atribuídas a alguém que usa com êxito a sua influência”.
Os estudos sobre liderança despertam grande interesse nas organizações e nos pesquisadores. Embora com objetivos e visões diferentes, ambos os lados entendem a liderança como um processo fundamental para a compreensão do comportamento de indivíduos e grupos.
O tema ganha amplitude porque pode ser entendido e aplicado por qualquer tipo de organização ou, ainda, pela sociedade em geral, como no caso de movimentos grupais de cunho social, político ou cultural. Assim, a liderança tem sido um tema muito discutido ao longo da história e, ainda hoje, gera novas discussões e pesquisas. Bergamini (1994) afirma que o termo “liderança” surgiu por volta de 1300. Alguns autores indicam os primeiros estudos formais sobre liderança apareceram ainda no campo da História e da Filosofia há séculos (MELO, 2014), enquanto outros autores consideram que esses estudos vieram do movimento das relações humanas entre as décadas de 1920 e 1930 (ROCHA, 2000).
Ao longo desse histórico, muitas teorias e abordagens foram desenvolvidas. Em uma tentativa de compilação desse conjunto, Bass (1990, p. 11 apud MELO, 2014, p. 217) expõe:
A liderança tem sido concebida como centro no processo de grupo, como uma questão de personalidade, um exercício de influência e de persuasão, como resultante de comportamentos específicos, relação de poder, como um instrumento para alcançar metas, um esforço de interação, como um papel diferenciado, como uma iniciação da estrutura e como muitas combinações dessas definições.
Com base nessa constatação, podemos entender que as possibilidades de discussão sobre liderança são múltiplas e diversas.
TEORIAS TRADICIONAIS SOBRE LIDERANÇA
Teoria dos traços
Uma das primeiras abordagens contemporâneas sobre a liderança diretamente focada nos processos organizacionais foi desenvolvida com base na crença de que os líderes “nascem prontos”, ou seja, são pessoas que possuem um conjunto de características que, quando combinadas, favorecem o exercício da liderança como um dom natural. Essa forma de entender a liderança é conhecida como Teoria dos Traços.
Segundo Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 322): “a abordagem dos traços tentava identificar traços de caráter duradouros e estáveis que diferenciavam líderes de não líderes”. Nessa perspectiva, foram elencados diversos traços relacionados à liderança, como inteligência, energia, autoconfiança, alguns traços físicos, como estatura e formato do corpo, ou outros aspectos, como caligrafia e signo astrológico.
Essa abordagem foi alvo de muitas críticas, especialmente por, de alguma forma, delimitar “líderes” e “não líderes”, favorecendo a discriminação, o preconceito e os estereótipos. Academicamente, as críticas se baseiam na não comprovação de uma relação direta entre a liderança e os inúmeros traços identificados nas pesquisas.
Big Five (OU MODELO DOS CINCO GRANDES FATORES)
A compreensão de que alguns traços pessoais podem definir a liderança ainda vem sendo utilizada como base para estudos mais recentes, como o modelo Big Five. Ele foi desenvolvido mediante estudos de personalidade que tiveram origem nos anos 1930, por McDougall, e foram utilizados como base para estudos posteriores, chegando até a atualidade. O modelo, conhecido no Brasil como Modelo dos cinco grandes fatores, tem sido base para pesquisas em várias culturas ao redor do mundo e tem se mostrado uma alternativa eficiente, com bons resultados de comprovação empírica (SILVA; NAKANO, 2011). Por meio desse modelo, foi criada uma escala em que os cinco fatores podem ser objetivamente avaliados, sendo eles:
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Fonte: adaptado de Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 130).
Embora o modelo não tenha como foco a exploração e a compreensão da liderança, mas, sim, a personalidade, alguns de seus fatores vêm sendo relacionados ao exercício eficiente da liderança, como a extroversão e a conscienciosidade, no sentido de que essas características de personalidade favorecem a visibilidade e a confiança necessárias ao exercício da liderança.
Esse modelo também sofre críticas por parte de pesquisadores em razão da carência de definições mais claras dos fatores, além de não ter base em uma teoria da personalidade específica e aceita cientificamente (LIMA; SIMÕES, 2000).
Há ainda outros modelos teóricos que discorrem sobre a liderança, como as teorias situacionais de liderança.
TEORIAS SITUACIONAIS DE LIDERANÇA
Estas teorias têm como uma de suas bases as teorias comportamentais, que investigam a forma como os líderes atuam e, por consequência, influenciam o comportamento do grupo. Com base em uma análise crítica desses estudos, as teorias situacionais (também conhecidas como contingenciais) foram desenvolvidas com fundamentação nos estudos de Hersey e Blanchard (1982 apud SILVA; MOURÃO, 2015). Elas representam um avanço na demonstração de que o comportamento de um líder não pode ser estático – ou seja, orientado para a tarefa ou para as pessoas, por exemplo – e deve, portanto, considerar a situação em que líder e subordinado atuam, incluindo o comportamento dos liderados. Nesse sentido, o líder deve escolher o estilo de liderança de acordo com o nível de prontidão ou maturidade dos subordinados, que se refere à habilidade e à disposição demonstrada pelas pessoas para o cumprimento de determinada tarefa.
Exemplificando
Ao considerar a maturidade dos colaboradores como fator que afeta o estilo de liderança, os líderes também estão distribuindo a responsabilidade pelo sucesso da relação entre líder e subordinado. Além disso, mostram compreensão sobre as diferenças pessoais e a forma como cada um prefere trabalhar, com mais ou com menos supervisão, com mais ou com menos suporte do líder.
As teorias mais contemporâneas tomam uma perspectiva diferente das anteriores ao considerar como os líderes são vistos por seus seguidores. Buscaremos, então, compreender algumas dessas propostas atuais.
TEORIAS ATUAIS SOBRE LIDERANÇA
Liderança carismática
De acordo com Griffin e Moorhead (2015, p. 349), a proposta desta teoria foi de Robert House. Com base nessa perspectiva, “carisma é uma forma de atração interpessoal que inspira apoio e aceitação”. Assim, a liderança carismática seria “um tipo de influência baseada no carisma pessoal do líder”.
Os autores explicam que os líderes carismáticos se caracterizam por três atributos essenciais:
Visualizar – consiste em articular uma visão atraente; criar altas expectativas e moldar comportamentos consistentes.
Estimular – significa demonstrar ânimo; expressar confiança pessoal; buscar, encontrar e usar o sucesso.
Capacitar – expressar apoio pessoal, ter empatia; expressar confiança nas pessoas.
Embora seja popular entre gestores e bastante divulgada, esta teoria sofre restrições por parte de alguns pesquisadores, pois não existem estudos científicos sobre o sentido e o impacto da liderança carismática. Além disso, há uma preocupação ética quanto ao tipo de efeito negativo que um líder pode exercer. Algumas personalidades são reconhecidas como exemplos de líderes carismáticos: Steve Jobs, Papa João Paulo II e Martin Luther King Jr. O carisma também pode fortalecer líderes que, embora exerçam esse inegável poder, fazem-no de forma destrutiva, como fizeam Adolf Hitler ou Osama Bin Laden.
Liderança transacional e LIDERANÇA transformacional
Burnes (1978 apud DIAS; BORGES, 2015) foi um dos pioneiros na conceituação de liderança transacional e de liderança transformacional. Para o autor, a liderança transacional se baseia em legitimidade e autoridade, nas quais os líderes se apoiam para enfatizar padrões de trabalho, atribuições e tarefas para o alcance de objetivos. Além disso, tendem a se concentrar na execução das tarefas e em formas de recompensar ou punir para influenciar o desempenho dos colaboradores. Por sua vez, a liderança transformacional é vista como um processo que motiva os colaboradores através do apelo aos mais elevados ideais e valores morais. Nesse caso, o líder deve ser capaz de definir e articular uma visão para sua organização, e os servidores devem aceitar a credibilidade do líder (BURNES, 1978 apud DIAS; BORGES, 2015).
Liderança laissez-faire
O estilo de liderança laissez-faire se caracteriza pelo comportamento de um líder que dá aos colaboradores a liberdade de tomar decisões; evita esclarecer suas expectativas; prefere não intervir em conflitos. Esse comportamento incentiva os colaboradores a assumir o poder de tomada de decisões.
Assimile
As teorias apresentadas como as mais atuais também sofrem críticas com relação à inconsistência teórica e à metodologia de pesquisa. No entanto, é importante conhecer algumas delas como uma referência ao desenvolvimento das discussões sobre o tema, com intuito de, assim, refletir sobre a evolução e a mudança de paradigmas.
Liderança servidora
Esta abordagem surgiu recentemente com base nos estudos de Greenleaf e na publicação de um livro dele sobre o assunto em 1977. A liderança servidora é baseada em princípios básicos, elementares, e tem como pilares o amor e o caráter. A disposição do líder é servir as pessoas mediante o atendimento das necessidades delas. Essa ação consiste em determinar um propósito, compartilhar o aprendizado, elevar os obstáculos, priorizar a confiança para fortalecer o relacionamento e desenvolver as pessoas (LINO; SILVA, 2011).
Uma definição interessante sobre a abordagem é apresentada por Marinho (2005 apud LINO; SILVA, 2011, p. 7):
A Teoria da Liderança Servidora desafia esse paradigma tradicional de chefia, quebra o mito da hierarquia intocável, propõe aprendizagem com os erros da equipe, busca a opinião e a experiência de todos os níveis da empresa, invade os chamados segredos da cúpula e distribui a informação outrora privilegiada para todo o grupo, a fim de que todos sintam que são parte do mesmo time, lutando pela vitória comum.
Liderança coaching
Por fim, a abordagem do líder coach faz um paralelo entre o papel do treinador (coach, em inglês) e o gestor que se preocupa com o desenvolvimento de seus subordinados. O termo foi utilizado pela primeira vez por Rhand Di Stefano, em 2005, quando publicou um livro sobre o tema.
Na prática, o líder coach ajuda seu colaborador a aprender, descobrir e explorar seu potencial, definir seus próprios objetivos, analisar os próprios erros e corrigi-los. Enfim, vai além do simples apoio ao cumprimento de tarefas e reforça a importância do desenvolvimento do indivíduo por inteiro.
Assimile
Nesta abordagem de liderança, os líderes devem atuar a fim de atender e orientar os liderados, dando-lhes autonomia e chances maiores de participação. Para que seja capaz de atuar dessa forma, o líder deve ter um bom autoconhecimento, aprimorando sempre suas relações interpessoais e a forma como fornece feedbacks para a equipe como um todo.
Existem outras teorias e abordagens sobre liderança, porém o objetivo aqui é oferecer um panorama sobre as diferentes formas de analisar a liderança por meio de uma perspectiva histórica. Aprofundaremos essa discussão nas próximas seções.
Referências
BERGAMINI, C. W. Liderança: a administração do sentido. Uma revisão da evolução histórica dos estudos e pesquisas sobre liderança enfatiza a importância de líderes organizacionais eficazes. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 102-114, maio/jun. 1994. Disponível em: https://bit.ly/30MsamY. Acesso em: 12 dez. 2019.
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