introdução
Caro aluno, nesta aula, você poderá degustar de informações sobre: radiografia simples, radiografia contrastada; tipos de contraste usados em animais domésticos; técnicas para utilização do meio de contraste.
Durante o exame radiográfico, o técnico ou tecnólogo responsável pela realização do exame deve conhecer os diferentes contrastes e também onde e quando podem ser utilizados/indicados.
Vamos estudar sobre a obtenção de imagens radiográficas com qualidade, posicionamento e situações em que devemos optar pela realização de um exame de imagem contrastado. Será que eu tenho sempre que realizar uma radiografia? Por quê?
Vamos aos estudos.
Radiografias simples e contrastadas
As radiografias simples possuem contraste natural entre as estruturas em estudo. O contraste radiográfico é a diferença de densidade entre as áreas adjacentes da imagem radiográfica (HAN; HURD, 2007), que variam entre branco e preto, sendo as estruturas brancas chamadas de radiopacas (metais, ossos) e as negras de radiolucentes (ar). Radiografias com longa escala de contraste possuem vários graus de cinza e poucas sombras brancas e pretas; já nas radiografias com baixa escala de contraste, o contrário é observado (poucas sombras cinzas e destaque de sombras pretas e brancas). A densidade do material radiografado é um fator determinante sobre como uma estrutura se apresentará na radiografia (HAN; HURD, 2007; THRALL, 2010).
De acordo com a densidade e o número atômico, o material tem maior ou menor habilidade de absorver os raios X, variando em uma escala de cinzas em que estruturas radiopacas são mais brancas (ossos) e tecidos radiolucentes se apresentam mais negros (ar). A espessura da região a ser radiografada também influencia na absorção dos raios X, uma vez que estruturas mais espessas absorvem mais raios X do que as menos espessas. A densidade do objeto, o sombreamento e contraste do filme e o nível de kVp influenciam diretamente na quantidade de contraste radiográfico. Esse contraste pode se estender ou se encurtar de acordo com a regulação do kVp; assim, quanto mais alto o kVp, mais longa será a escala de contraste (HAN; HURD, 2007; THRALL, 2010).
Apesar de as radiografias simples serem amplamente utilizadas, no abdome há pouco contraste natural entre as estruturas, sendo necessária a utilização de substâncias para avaliar os órgãos presentes na cavidade abdominal. Os meios de contraste são mais utilizados nos sistemas digestório e urinário, porém, frente à necessidade de avaliação de outras estruturas (como medula espinhal, glândulas salivares, entre outros), convém também utilizar desse método. Para o estudo contrastado são necessárias várias imagens, logo, são importantes que se façam radiografias de inspeção antes da administração de um agente de contraste, considerando que o diagnóstico pode ser obtido através da radiografia simples sem a necessidade de administração de agente de contraste e de diversas exposições do paciente à radiação (HUDSON et al., 2003; ANDRADE, 2007).
Para a realização de estudos contrastados existem agentes de contraste positivo e agentes de contraste negativo. Os agentes de contraste positivo são dotados de elementos com alto número atômico, logo, apresentam-se radiopacos na imagem, absorvem muito os raios X, e os meios mais utilizados são o sulfato de bário e iodetos orgânicos (iodetos iônicos e iodetos não iônicos). Agentes de contraste negativo possuem baixo número atômico, portanto, aparecem radiolucentes na imagem final, e os meios mais comuns são o ar e dióxido de carbono. Existem ainda procedimentos de duplo contraste, em que são utilizados ambos os meios de contraste (positivo e negativo) (HUDSON et al., 2003; ANDRADE, 2007).

Tipos de contraste nos animais domésticos
O estudo radiográfico contrastado tem como objetivo contornar um órgão ou sistema em meio aos tecidos moles que o circundam, determinando posição, tamanho, formato e função de um órgão. Nos estudos de contraste existem meios de contraste positivo e meios de contraste negativo e cada um deles possui seu melhor desempenho na avaliação de estruturas específicas (HAN; HURD, 2007).
Os meios de contraste positivo (MCP) têm número atômico elevado, e os principais utilizados são bário, iodo orgânico iônico e iodo orgânico não iônico. O bário (sulfato de bário) é geralmente utilizado para estudos do trato gastrointestinal, tem menor custo quando comparado aos Iodetos orgânicos, não possui absorção ou diluição e fornece um bom revestimento da mucosa, no entanto, não é indicado que se utilize esse meio em suspeitas de ruptura ou laceração do sistema digestório, pois o composto é prejudicial para a cavidade peritoneal, causando um processo inflamatório granulomatoso quando em contato com o peritônio (HAN; HURD, 2007; HUDSON et al., 2003).
O iodo orgânico iônico é hidrossolúvel e pode se apresentar na forma oral ou intravenosa. A forma oral se caracteriza pela solução de diatrizoato de meglumina e diatrizoato de sódio. É utilizado para estudos em que se tem a suspeita de perfuração do trato gastrointestinal e geralmente possui trânsito rápido, porém, sua hipertonicidade faz com que os fluidos sejam atraídos para o lúmen do intestino, não sendo indicada a sua utilização em animais desidratados para evitar o agravamento da hipovolemia do animal. A forma intravenosa é preparada com combinações da mesma maneira que a forma oral e pode também ser infundida dentro dos órgãos ocos, não sendo indicada no uso da avaliação de medula, pois desencadeia irritação no sistema nervoso central (HUDSON et al., 2003; ANJOS; RIBEIRO; AIRES, 2020).
O iodo orgânico não iônico não é hipertônico, desse modo não contribui para a desidratação do paciente e pode ser utilizado para mielografia (exames da medula espinhal), sendo aplicado no espaço subaracnóideo. Os principais agentes são o ioexol, iopamidol e o iodixanol. Esses compostos possuem poucos efeitos adversos, porém não revestem a mucosa adequadamente e seu valor comercial pode ser até 10 vezes mais alto quando comparado ao iodo orgânico iônico (HUDSON et al., 2003; RAUSCH et al.,2009).
Os agentes de contraste negativo mais utilizados são o ar, oxigênio e o dióxido de carbono, que possuem baixa densidade e se apresentam radiolucentes na imagem final. O oxigênio e o dióxido de carbono são compostos extremamente solúveis. É imprescindível atentar para não inflar excessivamente órgãos, como vesícula urinária, com esses gases, pois podem levar a uma lesão ulcerativa, causando a ruptura do órgão e subsequente parada cardíaca. Para procedimentos de duplo contraste é indicado que primeiro se adicione o agente de contraste negativo e, em seguida, o agente de contraste positivo, desse modo evitando a formação de bolhas de ar que podem influenciar na avaliação e diagnóstico (HAN; HURD, 2007; HUDSON et al., 2003; ANJOS; RIBEIRO; AIRES, 2020)

Técnicas de utilização de contraste
A maior utilização dos meios de contraste é feita nos estudos do trato gastrointestinal, portanto, esse texto refere-se às técnicas de contraste utilizadas para a avaliação desse sistema. A esofagografia ou esofagograma é comumente utilizada para avaliar a conformação, identificação de corpos estranhos, massas esofágicas e para avaliação de megaesôfago. Esse tipo de exame é indicado quando o paciente apresenta disfagia e regurgitação (sinal clínico característico de megaesôfago). Para a avaliação esofágica utiliza-se o meio de contraste positivo sulfato de bário em pasta ou oferecido em “sanduíches” (alimento enlatado misturado com bário), sendo que, ao ser oferecido para o animal, a radiografia deve ser feita imediatamente nas projeções torácicas lateral e ventrodorsal. É importante que a administração do agente seja feita de forma lenta para evitar a aspiração do conteúdo. É possível lançar mão de ambos os métodos (pasta de bário e, em seguida, “sanduíche”) para se obter informações adicionais (HAN; HURD, 2007; HUDSON et al., 2003).
No exame radiográfico contrastado do estômago e do intestino delgado, é necessário jejum sólido de 24 horas e jejum hídrico de, pelo menos, uma hora para que se possa avaliar corretamente. É possível também utilizar enema uma ou duas horas antes do exame, auxiliando na eliminação do ar e líquido presentes no cólon. O principal exame é o de trânsito gastrointestinal, que tem como agente de escolha a suspensão de bário. É indicado para pacientes que apresentam vômito, massas abdominais, lesões de parede, deslocamento de órgãos e para avaliação da função do trânsito gastrointestinal. A administração do agente pode ser feita de forma oral ou através de um tubo gástrico e a dose deve ser a quantidade necessária para distender o estômago. Caso haja suspeita de perfuração do estômago ou intestino, é indicado o uso de iodeto orgânico solúvel em água. Não é indicado que se façam as projeções com contraste antes da realização das radiografias simples (HUDSON et al., 2003; ANJOS; RIBEIRO; AIRES, 2020).
Para avaliação, é necessário que se continue o exame até o esvaziamento completo do estômago, alcançando o cólon. Em cães, faz-se radiografias sequenciadas durante a primeira hora, fazendo-se o primeiro exame imediatamente após a administração do contraste, o segundo após quinze minutos, o terceiro após trinta minutos, o seguinte após uma hora, dando seguimento fazendo radiografias a cada uma hora nas projeções lateral e ventrodorsal do abdome. A radiografia final, após dezoito a vinte e quatro horas, pode ser útil para o diagnóstico. Na gastrografia é comum lançar mão de exames de duplo contraste para melhor avaliação de ulcerações e presença de massas na mucosa, porém é possível realizar com contraste negativo (pneumogastografia), contraste positivo, duplo contraste com segmento do trato gastrointestinal e sem seguimento do trato gastrointestinal (HAN; HURD, 2007; HUDSON et al., 2003; RAUSCH et al.,2009).

Vídeo Resumo
Caro aluno,
Nesta videoaula, iniciaremos falando sobre radiografia simples e radiografia contrastada; na sequência, veremos os meios de contraste que podem ser utilizados; ao final, veremos as técnicas de utilização do contraste e os cuidados na administração, além de discutir o tempo entre as imagens a serem realizadas.
Saiba mais
Para complementar e aprimorar seus conhecimentos, além de ser útil para tirar alguma possível dúvida, recomendo a leitura do artigo: Megaesôfago em cães.
O material vai discorrer principalmente sobre a importância do exame radiográfico para diagnosticar o megaesôfago.