introdução
Depois de entender os diferentes tipos de pesquisa de clima, que variam de acordo com a frequência com que a organização deseja implementar a pesquisa e escolher os temas que serão abordados, chegou a hora de aplicar a pesquisa. Para que o engajamento seja alto, é preciso que haja uma boa comunicação com os colaboradores sobre a importância da pesquisa, o que ela é e o que será feito com ela. Deixar claro o prazo para responder a pesquisa, colocar-se à disposição para eventuais dúvidas ou ansiedades também fazem parte da rotina do RH. Após a aplicação da pesquisa e com os dados em mãos, chegou a hora de realizar a análise dos resultados. As análises podem ser feitas com o auxílio de tabelas e gráficos que ajudam na exposição dos resultados, primeiramente aos gestores e depois para todos os colaboradores. A comunicação e o planejamento dos planos de ações, das mudanças que a pesquisa indica que são necessários, são fundamentais para haja ciclicidade no processo de pesquisa de clima e implantação das ações.
Os diferentes tipos de pesquisa de clima organizacional
Existem diferentes tipos de pesquisa de clima organizacional. A principal diferença entre elas é em relação à frequência com a qual são aplicadas, que pode ser: anual, semestral, trimestral ou contínua. Escolher o tipo de pesquisa a ser aplicado em cada organização sempre traz um tradeoff entre frequência e a quantidade de perguntas. Quando a pesquisa é realizada com maior frequência na organização, a quantidade de perguntas precisa ser menor. Já se ela é realizada anualmente, é possível inserir mais assertivas. Isso acontece porque existe um limite de tempo durante o qual o ser humano é capaz de se concentrar nas perguntas e respondê-las com seriedade e confiabilidade. Segundo Dutra, Dutra e Dutra (2017), há um consenso de que, após 15 minutos respondendo a um questionário, as pessoas passam a perder sua concentração. Assim, a quantidade de questões deve variar entre 50 e 65, se pensarmos nos questionários de pesquisa anual.
A pesquisa de clima pode ser realizada anualmente, semestralmente, trimestralmente ou de forma contínua. A escolha da frequência vai variar de organização para organização. As informações oriundas da pesquisa de clima são um importante insumo para o direcionamento das tomadas de decisões da gestão de pessoas, já que a organização tem uma ideia de como é vista pelos colaboradores em diferentes perspectivas. Normalmente, o que se deseja investigar é definido previamente, uma vez que não é possível perguntar tudo, pois a quantidade de questões é limitada. Os temas escolhidos pela organização são aqueles ligados às preocupações existentes em relação aos colaboradores (DUTRA; DUTRA; DUTRA, 2017).
Diante da limitação de questões, é importante determinar previamente aquilo que é mais relevante para a organização por meio do levantamento dos temas com a direção e depois validar com o conjunto de gestores. Essa validação é necessária para que os resultados sejam posteriormente discutidos com os gestores (dentro dos temas que foram priorizados na pesquisa). Na aula anterior, vimos o instrumento de pesquisa de clima denominado IMCO. O IMCO foi estatisticamente validado como um construto capaz de medir e identificar as dimensões a que se propõe do clima organizacional. Entretanto, nem toda organização consegue operacionalizar uma pesquisa com 84 assertivas (questões), uma vez que isso pode deixar o questionário muito extenso. É possível que nem todas as dimensões sejam relevantes para a organização, e um desmembramento do questionário com escolha das dimensões relevantes seja necessário, contribuindo para facilitar a logística do levantamento e a redução de tempo de coleta de dados. Outro ponto é a proposição de dimensões não abordadas no IMCO; contudo, se a organização optar por abarcar novas dimensões, o cuidado estatístico e metodológico se fará necessário para que a pesquisa mantenha sua validade e confiabilidade.
Após a realização da pesquisa, com os dados em mãos, chega a vez de realizar a análise dos resultados obtidos. Essa análise deve gerar um plano de ação para trabalhar nos pontos que foram identificados como insatisfatórios pelos colaboradores. É possível que, após as questões quantitativas, sejam deixados espaços para que o colaborador possa se manifestar qualitativamente sobre os pontos com os quais não está satisfeito, respondendo, assim, o porquê de não estar satisfeito. As ações gerenciais para melhorar o clima devem ser manejadas por meio de consultas aos colaboradores – podem ser por reuniões, questionários de follow-up e criação de indicadores das ações implantadas. Com as ações implantadas, nas novas pesquisas de clima o resultado já deve aparecer.
Escolhendo o tipo de pesquisa de clima
A pesquisa anual tem a vantagem de poder entrar nos detalhes, por conter uma maior quantidade de assertivas; porém, como a validade das percepções coletadas na pesquisa varia entre três e quatro meses, ela acaba ficando obsoleta. Depois desse tempo, as informações captadas já não possuem validade e precisam ser atualizadas com uma nova pesquisa, uma vez que a organização fica descoberta no restante do tempo. Optar por realizar a pesquisa semestralmente implica em diminuir um pouco o número de questões abordadas, mas as vantagens e desvantagens se parecem com as das pesquisas anuais, pois ambas proporcionam profundidade, porém pecam no prazo de validade dos dados coletados, devido ao tempo de aplicação entre uma rodada e outra.
Na pesquisa trimestral, a quantidade de perguntas diminui, mas existem perguntas que não vencem mais, uma vez que o tempo de aplicação entre uma pesquisa e outra está no prazo em que as percepções dos colaboradores estão atuais. Com a quantidade de assertivas da pesquisa trimestral, os colaboradores não gastam muito tempo para responder ao questionário e, ainda assim, a pesquisa possui uma boa profundidade (não como a pesquisa anual, mas compatível com os temas mais relevantes). Com a frequência de quatro pesquisas por ano, é possível manter o banco de dados atualizado com informações que não perdem mais a validade no tempo. Esta seria a frequência mais adequada para as organizações que desejam constantemente avaliar a percepção de seus colaboradores, sem que elas fiquem obsoletas; como uma prática orgânica.
As pesquisas contínuas acontecem na frequência que varia entre uma vez por semana e uma vez por mês. Sua grande vantagem é o feedback, que é recebido constantemente; contudo, não é possível se aprofundar com essa frequência. Com a pesquisa contínua, não se podem abordar todos os temas de uma vez; é preciso escolher qual tema será abordado em cada semana e rotacioná-los. Em uma semana pode-se abordar a liderança, em outra o ambiente de trabalho, em outra as políticas... e assim sucessivamente. A vantagem é que a organização está sempre dialogando com os colaboradores; a desvantagem é que, como as perguntas são sempre sobre temas diferentes, não é possível realizar comparações sobre os dados coletados, uma vez que estão alternando. O engajamento também diminui quando o tempo de aplicação fica menor entre as pesquisas.
Existem ainda as pesquisas ditas de censo, realizadas independentemente da área e da função do colaborador. Já as pesquisas de follow-up são aquelas realizadas para identificar se as ações determinadas nos planos de ação de pesquisas anteriores estão sendo tomadas e se os colaboradores percebem as mudanças indicadas como necessárias. Essas pesquisas não precisam ser realizadas com toda a organização, mas em pequenos grupos, ou áreas organizacionais, para identificar se as melhorias de fato estão surtindo o efeito desejado.
Comunicando os resultados e implementando o plano de ação
De acordo com Dutra, Dutra e Dutra (2017), as pesquisas podem ser recortadas por unidade de negócio e por áreas, com o objetivo de localizar onde existem os maiores níveis de insatisfação. Elas também podem ser recortadas por faixa etária, tempo de casa, gênero, nível de instrução, etc. É importante, todavia, que as assertivas se mantenham ao longo do tempo, para que séries históricas sejam construídas e mostrem como a organização está evoluindo; ou seja, as perguntas serão sempre repetidas, em todas as pesquisas de clima que a organização realizar. Esses recortes ajudam a explicar os resultados da pesquisa e segmentos da organização que devem receber maior atenção.
Existem duas linhas de análise principais: uma para entender, de maneira geral, onde a empresa pode ser vista, em quais categorias ela pode ter uma nota baixa e se existe um padrão; outra por meio das equipes, visualizando quais delas têm menor engajamento. Para divulgar os resultados de pesquisa, o ideal é que os líderes da organização – o CFO para a área de finanças, o head de RH na área de Gestão de Pessoas e assim sucessivamente – apresentem os dados de suas áreas, primeiro com uma visão geral da área e depois podendo entrar em questões mais específicas. Após apresentar os dados coletados, cada gestor apresenta e/ou constrói junto com os colaboradores um plano de ação, visando minimizar ou resolver os problemas que foram apresentados. É mais difícil apresentar a pesquisa de clima considerando toda a empresa de uma vez, pois pode-se perder de vista a realidade de cada colaborador. Por outro lado, se a análise for segmentada por times muito específicos, como o “contas a pagar”, o recorte pode ser muito pequeno e não fazer sentido para o todo. O que traz mais valor é olhar para cada departamento/área para se ter mais insights e gerar mais ações.
É fundamental que as respostas não sejam punidas e que os gestores não tirem satisfação com o seu time pelas respostas dadas. A gestão de pessoas precisa ser muito cautelosa na apresentação dos resultados aos gestores, para que não fique evidente quem deu a resposta. Assim, é preciso muitas vezes tratar o assunto de maneira geral, preservando o colaborador que respondeu à pesquisa (que é sigilosa). Caso isso não aconteça, a confiança será quebrada e os colaboradores não serão mais sinceros em suas respostas. Os resultados, além de serem apresentados aos gestores, precisam também ser apresentados aos colaboradores, que tiveram o trabalho e engajamento de responder à pesquisa (por melhores ou piores que tenham sido suas respostas) e gerar uma discussão saudável. Após a apresentação, é imprescindível apresentar os planos de ação que serão implementados e fazer um follow-up da implementação, caso contrário os colaboradores pensarão que de nada serviu responder à pesquisa de clima.
A pesquisa de clima organizacional, se bem planejada, aplicada e analisada, gera uma riqueza de informações que permite ações da Gestão de Pessoas, atuando nas situações críticas em relação aos objetivos estratégicos da organização. A pesquisa é benéfica para auxiliar na identificação de problemas que podem estar impactando diretamente no desempenho dos colaboradores e nas necessidades de treinamento e desenvolvimento. Assim, a pesquisa é fundamental para auxiliar na orientação de ações de desenvolvimento dos colaboradores e lideranças, sistemas de carreira, processos sucessórios, políticas e práticas de movimentação de pessoas e sistemas de remuneração e recompensas; ou seja, em todos os processos de RH.
Vídeo Resumo
Ficou interessado em entender melhor sobre como decidir o tipo de pesquisa, analisar os resultados e comunicar e implementar o plano de ação? Venha assistir à videoaula que preparamos para você!
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Saiba mais
Quer saber mais sobre pesquisa de clima e sua importância no contexto organizacional? Sugerimos a leitura do Capítulo 17: Gestão do clima e satisfação das pessoas do livro do professor Joel Dutra, disponível em Minha Biblioteca: Minha Biblioteca: Gestão de Pessoas.
DUTRA, J. S.; DUTRA, T. A.; DUTRA, G. A. Gestão de Pessoas: realidade atual e desafios futuros. São Paulo: Atlas, 2017.